Padre Lúcio
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Mês Missionário: Um chamado para exercemos nossa missão de filhos de Deus

No mês de outubro comemoramos o dia de Santa Teresinha do Menino Jesus, que é reconhecida pela Igreja como a Padroeira das Missões. Inspirados nela, neste mês Missionário, temos postado em nossas redes sociais, Facebook e Instagram, vários depoimentos de paroquianos que doaram sua vida para seguir esse caminho.

E hoje, temos o relato do Padre Lúcio sobre sua experiência como missionário na Espanha. Seu depoimento é um chamado para exercemos nossa missão de filhos de Deus independente da nossa vocação.

“Meu nome é Lúcio, nasci em Brasília no dia 25 de dezembro de 1980 e fui batizado na paróquia Santa Teresinha do Cruzeiro Novo. Morei muitos anos na 306 Norte e com 18 anos entrei no seminário Redemptoris Mater de Brasília, onde fiquei por dois anos. Em 2000 fui enviado para o Redemptoris Mater de Castellón na Espanha. Aqui terminei minha formação e fui ordenado presbítero no dia 24 de maio de 2009.

Nos dois primeiros anos do meu ministério estive como vigário na Catedral, ministrando muitas confissões e muitos casamentos. Depois, estive em outra paróquia por três anos acompanhando os grupos pastorais e, agora, já faz 6 anos que sou capelão em um hospital e em um mosteiro feminino.

A realidade na Espanha é uma realidade de pouca fé. A era da Espanha Cristã já passou, mas, mesmo assim, surgem grupos novos e pessoas com desejo de Deus.

O hospital é de atendimento psiquiátrico e oncológico. O nosso trabalho aqui é muito limitado. Não temos a liberdade de entrar nos quartos porque as pessoas podem fazer denuncias quando não solicitam assistência religiosa. Antigamente era um hospital que tinha religiosas dedicadas à saúde, mas retiraram a presença das irmãs.

Apesar disso, minha relação com os trabalhadores é muito boa. Eu caminho pelo hospital e celebro missa todos os dias. Quando uma pessoa pede assistência religiosa recebe uma assistência de entrega (não é somente dar a unção e acabou). As pessoas têm um conceito que a Unção dos Enfermos é dada só para quem está desenganado, prestes a morrer. No entanto, quando algum doente aceita o acompanhamento espiritual é lindo, é maravilhoso! Testemunhamos como alguns passam por um processo de conversão: 24 anos sem confessar e vemos um coração arrependido e sentindo-se amado por Deus. Fiz amizade com muitas dessas pessoas e até mesmo chorei quando algumas  morreram.

Nesta missão, muitas vezes é ficar sem palavras e pensar: “Senhor, é um mistério”. Aqui, a assistência religiosa não é aquela que eu vou até os quartos para pregar a palavra de Deus. Não raro, é fazer companhia ao doente, lanchar, contar piadas e se ele quiser, rezarmos juntos. Assim, podem sentir o amor de Deus por meio do carinho do padre.

Às vezes, as pessoas podem pensar que estou perdendo o tempo. No entanto, qual é o problema da mentalidade missionária quando se entende de maneira errada? É pensar que ser missionário consiste em fazer muitas coisas: fazer sopa solidária, entregar roupa, pregar a palavra de Deus viajando de uma cidade para outra… Não!!! Ser missionário é, com a minha própria vida, dar testemunho de que Jesus é a minha salvação. E cada pessoa também pode ser missionária dentro do seu próprio ambiente de trabalho. Pensamos que para ser um grande missionário temos que ir até a China, mas, Santa Teresinha, que é Padroeira das Missões, nunca saiu do convento. Ao contrário, tem gente que vai para o Irã ou para a África, mas se não servir de coração,  constrói o próprio ego e não o Reino de Deus.

Faz seis anos que faço casamentos apenas de amigos (Em seis anos fiz três casamentos) Tem seis anos que eu não faço primeiras comunhões, seis anos que eu não tenho um grupo jovem de confirmação, seis anos que eu quase não confesso  ̶ talvez, três confissões na semana dentro do hospital  ̶  mas isso não destrói o meu ministério, não me causa frustração. Além do mais, os padres pedem ajuda aos grupos nas paróquias, sejam Comunidades neo-catecumenáis ou carismáticas, grupo de jovens etc. Então, também aí está a minha missão.

Tenho também uma missão evangelizadora através de WhatsApp. Não gosto de expor a minha imagem, mas, por meio de grupos de homilias, a Palavra de Deus está chegando a mais de dezenove países em um tempo de 6 horas, coisa que eu não esperava. Comecei a gravar as homilias devido a difamação que sofri em certa ocasião. Aqui temos que ter muito cuidado porque as pessoas manipulam as nossas palavras.

Quando fui para o mosteiro descobri um tipo de oração, de intimidade profunda com Jesus. Em vários momentos pensei em entrar para o mosteiro (Fraternidad Monástica de la Paz en Alicante/ Castellón), mas os próprios monges e monjas (é uma ordem mista) me falaram: “Precisamos de você fora. Nós seremos os teus soldados  e o teu muro, mas você precisa estar fora para trabalhar aquilo que nós não podemos fazer.” Os monges oram e recebem as pessoas, mas qual é o primeiro contato para que essas pessoas possam ser curadas? É por meio do padre.

Faz quatro anos que acompanho uma equipe de evangelização em outra diocese que está há duas horas daqui. A equipe vem de Barcelona, e nós nos encontramos na metade do caminho. Estou muito feliz pois eles têm um zelo apostólico tremendo. Então meu ministério não é frustrado por não fazer muitas coisas, simplesmente é diferente dentro do projeto do Senhor.

Muitas vezes tive que atender confissões nas praças, nos parques, nas cafeterias (café-bar), porque a maioria das igrejas na Europa só abrem para a missa. Tive que confessar na rua, até mesmo fazendo esporte, como certa vez que um jovem que também estava de bicicleta  me falou: “Padre, preciso me confessar”, e a confissão foi feita andando de bicicleta, pois para exercer o ministério é necessário saber aproveitar o Kairós, o momento de Deus! O sacerdote precisa estar atento a esse momento, não ficar preso aos legalismos com estruturas rígidas e excessivos formalismos, deve ter a sensibilidade de escutar o problema do outro e, desde a oração, ter o discernimento correto ou saber encaminhar a pessoa aonde ela precisa ir, seja o mosteiro, seja o psiquiatra, seja qualquer outro grupo da Paróquia.

O sacerdote também precisa estar unido a alguma Comunidade Cristã, a algum movimento, para também ter um sustento espiritual  ̶  no meu caso, tenho uma Comunidade na qual conclui o itinerário do Caminho Neocatecumenal, há oito anos  ̶   e posso dizer que sou feliz na minha vocação, e sinto que Deus, no momento presente, pede para eu exercer o meu ministério e a missão aqui, nesta cidade, sempre disposto ao que o meu Bispo indicar.

Fazer poucas coisas não me faz menos missionário do que qualquer outro, porque quem não sabe servir a Deus nas coisas mínimas não saberá servi-lo nas coisas grandes. Por isso, também é um chamado de atenção aos “triunfalistas,” é entregar o meu coração àquele que sofre, àquele que vê que é um pecador. Aí está a nossa entrega! Curar o ferido no corpo e na alma, cuidar da ovelha robusta, amar a fraca e a gorda. Tudo isso para Glória de Deus Pai, de Jesus e do Espírito Santo.

Que a Virgem Maria os proteja e Deus os abençoe. Shalom. Shalom!”

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