Comunhão dos santos
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O QUE É A COMUNHÃO DOS SANTOS?

A Communio Sanctorum (Comunhão dos Santos) é um artigo que integra a totalidade do Símbolo Apostólico, comumente conhecido como o “Credo”. No Catecismo ele aparece como um parágrafo vinculado ao 9º artigo: “Creio na Santa Igreja Católica”. A Comunhão dos Santos, contudo, contém características muito particulares que remontam aos primórdios da Igreja e que são fundamentais para a vivência da fé eclesial nos dias atuais. Brevemente buscaremos expor algumas destas características que nos ajudam a estarmos unidos a Igreja Uma, Santa, Católica e Apostólica.

Antes de aprofundarmos nos ensinamentos por trás deste artigo, é importante clarear a ideia do que é a Comunhão e de quem são os Santos dos quais este artigo fala. No que diz respeito à Comunhão, é importante voltarmos ao contexto dos primeiros séculos e notarmos a grande obra realizada pelo Espírito Santo na Igreja primitiva. O Espírito atuou junto aos primeiros Apóstolos fazendo nascer as comunidades cristãs primitivas, sustentando as mesmas e ensinando tudo quanto eram os desígnios do Pai. Mas o grande milagre visto a partir daquelas comunidades é que, mesmo com tantas diferenças entre judeus e gentios, tocava-se o dom da Comunhão, que era uma garantia do acompanhamento de Deus para com a comunidade e um grande sinal para a sociedade da época. A Comunhão dentro da comunidade manifestava-se através do amor e da unidade entre os irmãos e permitia que as pessoas que estavam fora da Igreja se impressionassem a ponto de dizer: “vede como se amam”; e enfim serem atraídos por estes sinais da comunidade cristã.

Desde os primeiros séculos os “Santos” eram identificados como os cristãos (cf. Ef 4,21s). Estes, eram os neo-convertidos que passaram de uma vida antiga de engano e de pecado para uma vida nova em Cristo por meio do batismo. Portanto, é impreciso pensar que a Comunhão dos Santos é estrita e restrita aos santos canonizados (santos de altar); é uma realidade muito mais profunda: o mistério de Cristo e da Communio Sanctorum é manifesto na Igreja celeste (em plenitude), mas também na Igreja militante que combate como num corpo inserida no mundo que a circunda.

Todo este artigo do Credo deve ser compreendido no horizonte da Igreja enquanto Corpo místico de Cristo, a cabeça. Existem dois modos de compreensão sobre a Comunhão dos Santos, são eles: “A comunhão nas coisas santas” e a “comunhão das pessoas santas”. Estes aspectos podem ser explicados da seguinte forma: os fiéis, membros da Igreja pelo batismo e pela fé comum são agraciados por um fundo comum que são os bens espirituais e temporais, garantidos pelo Espírito Santo à própria Igreja: “Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros… Assim, é preciso crer que existe uma comunhão dos bens na Igreja. Mas o membro mais importante é Cristo, por ser a Cabeça… Assim, o bem de Cristo é comunicado a todos os membros, e essa comunicação se faz por meio dos sacramentos da Igreja” [1].

A Igreja do nosso tempo é continuamente convidada a viver como os primeiros cristãos, que “mostravam-se assíduos ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações… Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum” (At 2,42.44). “A comunhão de bens é fruto do amor de Deus experimentado no perdão dos pecados, no dom de sua Palavra, na unidade no corpo e sangue de Cristo e no amor cativante do Espírito Santo” [2]. Mostra-se importante, a partir do texto acima, expor os bens espirituais doados por Cristo à Santa Igreja. Estes bens são basicamente 4:

  • A Fé: depósito apostólico comum confiado a todos os filhos da Igreja;
  • Os Sacramentos: Todos os sacramentos (particularmente o batismo – porta para os demais sacramentos – e a eucaristia – comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo e sacramento que une os irmãos na caridade) são vínculos que unem, pela sua graça própria, todos os cristãos. Deste modo, “a comunhão dos santos é a comunhão operada pelos sacramentos” [3].
  • Os Carismas: São as graças especiais dadas a certas pessoas e/ou grupos, conforme a vontade do Pai. Todavia, apesar de particular, todo carisma faz parte da Igreja Universal, em outras palavras, é um bem comum.
  • Caridade: Como corpo da Igreja, cada cristão deve se preocupar em cuidar dos demais irmãos que também fazem parte do corpo místico de Cristo.

Finalmente, a Fé da Igreja apresenta a comunhão na esperança da realidade celeste, que em sua essência significa que “os sofrimentos do tempo presente não tem proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Rm 8,18). A Comunhão dos Santos na dimensão celeste é a plenitude da vida eclesial-comunitária. A Communio Sanctorum da Igreja militante é, portanto, imagem e primícias da vida eterna, é uma das certezas do Paraíso e do sustento do Pai junto a sua Igreja; por isso é necessária a vida em oração e a importante tradição da intercessão dos santos que já contemplam as belezas da Trindade na corte celeste, justamente porque os mesmo combateram o bom combate e hoje, já na glória, também fazem parte do Corpo eclesial em plenitude.

Não é possível exprimir em poucas palavras a profundidade e a riqueza existentes neste artigo contido no Símbolo apostólico, mas com estas “pinceladas” penso que o amor a Cristo, à Fé, à sagrada Tradição e em definitiva à Santa Igreja floresce cada vez mais dentro de cada um de nós. Partindo de um encontro concreto com Deus, por meio da escuta da Boa-Notícia da Ressurreição de Cristo, que nos ama assim como somos, o Espírito impele o homem a passar a uma vida nova, experimentada na comunidade cristã; a Comunhão dos Santos, assim como todas as graças divinas nos são acrescentadas como dons para a nossa salvação e o bem de todos os homens. Esta eleição à vida eclesial é, portanto, um serviço a toda a humanidade.


[1]                     CIC, nº 947.

[2]                     JIMÉNEZ. O Credo, 2016. p. 248.

[3]                     CIC, nº 950.


Bibliografia:

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIC). São Paulo: Loyola, 2000.

JIMÉNEZ HERNÁNDEZ, Emiliano. O Credo: Símbolo da Fé da Igreja. São Paulo: Cultor de Livros, 2016.

 


Elias Honório de Castro (seminarista do Redemptoris Mater de São Paulo)

[email protected]

 Mestrando em Teologia pela PUC-SP

Licenciado em Filosofia pela UNIFAI-SP

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